No relato de hoje do Diário trazemos o relato de Patty, professora de Música e Artes em uma escola municipal no interior de SP

“A prefeitura não ofereceu ferramentas para trabalharmos com o ensino à distância, foi tudo meio improvisado pelas próprias professoras. Criaram grupos de Whatsapp com estudantes/pais de cada turma.
 

A grande maioria das famílias não tem computador em casa, contando apenas com o celular. Boa parte não tem Internet em casa também, dependendo do 3G no celular e do uso gratuito de Whatsapp nos pacotes das operadoras, ou seja, muitos estudantes não conseguem abrir nem um vídeo no Youtube. Na área rural a instabilidade de sinal também é uma dificuldade.
Tenho produzido o material em PDF, enviando junto com o arquivo prints das páginas pois alguns alunos não conseguem abrir PDF no celular. Envio também áudio das músicas utilizadas nas atividades. Tenho feito muitas atividades teóricas, mais do que gostaria, mas na medida do possível proponho atividades práticas. Outro problema é a falta de materiais, por exemplo, as tintas compradas no material escolar ficaram nas escolas, então não há tinta em casa para pintar.
 

Me sinto frustrada pois tinha planejado diversos projetos que se tornam inviáveis neste cenário, assim como a maioria das atividades que gostaria de fazer. O trabalho em grupo é essencial para as aulas de música e artes, então perde-se muito com essa adaptação precária ao EaD. A distância é real, o ensino eu já não sei... Tenho tido pouco feedback das atividades realizadas, apesar de pedir para me enviarem. Mas dúvidas, ah, essas chegam em grande quantidade. De manhã, de tarde, de noite, nos finais de semana... Tem sido muito desgastante ficar tirando dúvidas e muitas vezes não sei se estou conversando com aluno ou com algum familiar, pois o celular é compreensivelmente dividido entre a família.
 

A pressão por planejamentos e relatórios é constante, como que para provar que estamos trabalhando e não estamos de bobeira em casa. Também há uma pressão para seguir com o conteúdo a todo custo. Mas honestamente não vejo aproveitamento neste ano letivo... Não tenho ideias nem soluções. Mas que não está dando certo, não está.”